You Have My Sword

Aos que me conhecem. Aos que não me conhecem. Aos que já ouviram falar de mim. Aos que estão se lixando pra quem eu sou. Espero que gostem do espetáculo.

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Location: Recife, Pernambuco, Brazil

Quem eu sou? Isso, nem eu sei realmente. Cada dia é uma batalha. Cada batalha uma icógnita. Viver, lutar, cair, erguer-se, dia após dia... Vitória, talvez sim, talvez não. Aprendizados, sempre.

Saturday, April 08, 2006

CRÔNICA DE UM CORPO SEM ALMA (OU QUASE)

Extraído de um devaneio reflexivo na busca da própria verdade existencial
Minha vida é um caos constante. Não como as outras pessoas que vivem num caos universal, equilibrado pelas energias da ordem primordial. Eu não possuo ponto de equilíbrio - não mais.
Há cinco anos eu passei por um momento transitório muito intenso. Estava responsável pelo envio dos restos mortais da minha mãe para o sul; havia terminado um relacionamento no qual eu estava muito apegado à pessoa; estava trabalhando e me preparando para começar um curso novo na Universidade.
Fiz algo que nunca havia imginado se possível: entrei em confronto comigo mesmo, em sonho. O campo de batalha escolhido foi o Reino do Sonhar, domínio de Morfeu. Foi uma luta árdua, quase épica. Houve muita destruição ao redor. Era como se duas forças primais tivessem colidido como todo o ímpeto.
De um lado, meu eu racional, equilibrado, centrado. Do outro, meu eu impulsivo, destrutivo, caótico. Um dos dois perdeu, e como "castigo", ficou confinado à prisão no mundo onírico.
Mas qual lado venceu? Nenhum! Alterei todo o status quo da minha existência àquela noite. Tal como a batalha entre Baal e Zebub, os dois se fundiram numa única entidade, mas não completa. No processo, parte das duas essências foram separadas. Sem esse "complemento", o domínio yin-yang foi perturbado.
Gradualmente fui perdendo elementos da minha personalidade, e buscando cada vez mais nas coisas mundanas uma razão para continuar existindo para continuar vivendo.
"Cogito, ergo sum" disse Descartes. Mas não posso dizer que o que tenho é uma vida. muitas coisas de antigamente foram perdidas, talvez para nunca serem encontradas.
Há alguns meses, eu tentei o suicídio: tomei diversos comprimidos tranquilizantes. Sem perceber, entrei mais uma vez no mundo dos sonhos, o qual eu havia lacrado anos antes, após a Grande Batalha.
O munod foi reconstruido. Seu senhor não estava lá para me receber, mas havia alguém (ou algo) me esperando. Na tentativa de tirar a minha vida acabei encontrado uma resposta das milhares de perguntas que não paravam de grita à minha mente.
Quando retornei ao mundo mortal, eu estava sorvendo um concentrado de cafeína preparado pela minha ex-esposa. Quase seis meses depois eu estava sem perspectiva de vida: mas voltara a sonhar.
Foi então que lembrei da época na qual minhas convicções e anseios haviam se transformado em cogitações e "sonhos" intangíveis. Foi nesse momento que eu percebi que deveria buscar o que eu havia expulso em uma época distante. Foi então que compreendi a merda que eu havia feito.
Eu sempre tive "facilidade" para fazer as coisas acontecerem. Uns chamam de mediunidade, outros de magia, e há aqueles que consideram um poder das trevas. Eu chamo de habilidades especiais. Esse poder também desapareceu. Minhas capacidades acima da média humana deixaram de existir.
A batalha consumiu mais de mim do que pude enxergar, mais do que pude sentir. Eu estava mais humano do que nunca - e qual o problema disso? Nenhum, exceto pela contínua degeneração da minha identidade. Estive cada dia com menos idéia do meu futuro; cada dia sem entender o que havia acontecido e como havia acontecido. O passado era apenas uma névoa nas minhas lembranças, e o futuro uma icógnita.
Foi então que comecei a apresentar os sintomas de depressão. A vida era vazia. o que eu fazia não possuia valor para mim. Tudo o que eu tentava acabava fracassando.
Acredito que só cheguei a durar esses anos por conta do apoio dos amigos que conviviam comigo nessa época, e da minha ex-esposa.
Casando de tudo, mas agora com um fio de esperança tecido pela revelação do meu passado, procurei esse pedaço de mim que faltava. Mais uma vez, não sem grande esforço, fui ao mundo onírico. Fui buscar os fragmentos perdidos do meu eu. Mais uma vez eu fracassei. Quando lá cheguei, percebi que aquelas partes da minha essência já não estavam mais naquele plano. Estão perdidos em algum outro ponto desta complexa rede de mundos e planos paralelos chamados de Existência.
Somente eu posso encontrar o que eu perdi, e o que está perdido pode estar em qualquer lugar. Mas ainda há esperança. Sem compreender como ou porquê, uma vontade de compleição da minha vida me impele a continuar a jornada. Me lembro de alguns aspectos intrigantes das minha capacidades. Através dessas particularidades está a chave para realizar a busca.
Eu posso dizer que estou melhor que a seis meses atrás. Mas também não posso dizer que estou em minha plena forma. Quero poder voltar ao que eu era, mas com a certeza de que nunca mais serei o mesmo de antes. O Universo está em constante transformação, e como faço parte dele, ainda que em fragmentos, eu também estou em constante mudança.
Sei que a busca pelo que fui, pelo que me pertenceu, será árdua, difícil, talvez até mortal. Mas também sei que se não for nesta jornada eu viverei em eterna dissonância, num total desconforto e numa agonia degenerativa sem precedentes.
Eu sinto que um pouco do que eu podia fazer ainda permanece dentro de mim. Eu também sinto quando algo tenta se revelar para mim. É mais que um arrepio na espinha: é como uma descarga no que sobrou da minha alma.
Contudo uma outra questão surge: como estarão os fragmentos da minha essência? Afinal de contas, eles também se transformaram junto com o Universo. E como procederei quando encontrá-los? Ainda não sei o que fazer em caso de uma rejeição ao retorno. Só sei que não posso permitir que as partes do meu eu estejam dispersas enquanto meu corpo e mente desvanecem em conflito pela ausência.
Doido, místico, aluado, idiota. Posso ser tudo isso! Mas eu sei que sou muito mais que isso! Sei que possuo coragem, honra, justiça, virtude, sabedoria, lealdade, serenidade, devoção e piedade. Sei que no universo existe mais do que aquilo que podemos medir e observar. Sei que o intangível, o sobrenatural, o supernatural, a chama primordial do Universo, o caos e a ordem, e muitos outros elementos trabalham em constante avidez e progressão. A ordem no Universo deve ser restaurada, nem que eu me consuma no processo. Nem que para isso, minha memória, a memória de tudo o que fui, ou do que poderia vir a ser, seja o combustível desse processo de reconstrução. Se com minha vida ou morte eu puder fazê-lo, eu o farei. "You have my sword..."

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